Título: Amor é um jogo de azar
Autora: Chris Ann
Classificação: PG-13 - Humor/Romance/Drama - yaoi
Ship: Ron/Draco, Harry/Draco, Ron/Hermione
Resumo: Sobre um herói desaparecido, um puro-sangue falido, um presente biológico e o melhor amigo com problemas com bebida que acaba tendo que cuidar de tudo.
Avisos: Mpreg!
Disclaimer: Tudo pertence à J.K. Eu só brinco com os personagens \o\
Nota1: Para todo mundo que foi infernizado com um "o que é que você acha?" enquanto eu escrevia a fic, e para Beatriz, que impediu a bichinha de ir para o limbo.
Nota2: Desconsidera HP7. Ou pelo menos o epílogo u_u'
Capítulo 7
Potter podia ter sido acordado de uma forma menos traumática, ele reconhecia. Um simples Enervate e ele estaria desperto, mas, no calor e na raiva da hora, Draco não pensou nisso. Depois que recuperou as faculdades mentais, a único pensamento que passou pela cabeça dele foi que Potter iria pagar pela merda que fizera com sua vida, quer fosse ou não o pai dos bebês. E começaria a pagar naquele momento. Então, antes que Ron pudesse reagir, ele apanhou a varinha na mesinha, contornou-a para chegar até Potter e o atingiu em cheio com um jato d’água gelada no rosto. Ele acordou na hora, se engasgando e tossindo.
“Draco!” - exclamou Ron, horrorizado, contornando a mesa às pressas e o empurrando para levantar Potter no chão e colocá-lo no sofá.
Potter desabou no sofá, ainda tossindo. Quando o ataque melhorou, ele apontou para a barriga de Draco, sacudindo a mão para deixar claro o que queria perguntar.
“Isso mesmo” - confirmou Ron, enquanto o endireitava no sofá.
Potter parou gradativamente de tossir. Afastou-se dos cuidados de Ron e olhou para Draco e sua barriga, ainda incapaz de acreditar.
“Mas...”
“São gêmeos.” - disse Draco pela primeira vez.
O queixo de Potter caiu, e ele olhou para Ron, como se esperasse que ele desmentisse. Ele se limitou a dar os ombros. Eles ficaram em silêncio tenso enquanto Potter olhava os dois, respirando pesadamente. Ron tentou atrair a atenção de Draco com olhares nervosos, mas ele o ignorou.
“Mas são meus?” - perguntou Potter de repente, se dirigindo a Ron.
“Podem ser.”
“Como assim “podem ser”?”
“Podem ser porque você levou um chifre na festa de Natal.”
Draco quase sentiu Ron prender a respiração enquanto Potter virava-se para ele, voltando a ter a mesma expressão com a qual chegara pela lareira.
“Eu achei que você ia negar.”
“Harry” - começou Ron - “nós estávamos bê...”
“Bêbados?” - perguntou ele, dando um riso sem humor - “Não parecia.”
“Harry, eu...”
Ele se desviou de Ron e se levantou do sofá, encarando Draco.
“Todo esse tempo, eu achei que você teria alguma dignidade. Alguma coisa. Mas eu devia saber desde o início, eu nunca devia ter confiado em você, seu...”
“Harry, por favor!” - pediu Ron, tentando barrar seu avanço em direção a Draco, mas ele o impediu com um safanão na mão que tentou segurá-lo.
“... seu traidor.”
Ele tirou a varinha das vestes e mirou no meio dos olhos de Draco antes que ele pudesse sequer levantar a sua.
“Har-Harry!” - gaguejou Ron, tirando sua varinha das vestes e mirando - “Exper...”
Potter girou o corpo antes que Ron tivesse sequer terminado o feitiço.
“Estupefaça!”
“Protego!”
O feitiço ricocheteou de volta para Potter, que, sem tempo para reagir ao escudo de Ron, se abaixou, ao mesmo tempo em que o feitiço abria um buraco na parede da sala. Draco ergueu a varinha ao mesmo tempo em que Potter se virava para ele, e os dois tentaram se desarmar ao mesmo tempo. A força dos feitiços fez a sala sacudir e duas varinhas voarem para longe dos seus donos, indo aterrissarem perto da porta da cozinha.
“Seu...” - começou Potter, cambaleando um pouco.
Jogado contra a parede pelo impacto, Draco percebeu que ele tencionava sair correndo atrás da varinha, e sabia que ele mesmo não teria a menor chance de alcançar a sua antes. Encarando Potter, ele esqueceu que Ron ainda estava armado. Aliás, ele esqueceu que Ron estava ali. Era como se os anos tivessem voltado e fossem apenas eles, só eles, num duelo de vida ou morte. Estava possesso de raiva, e fez a única opção que apareceu na sua mente.
Antes que Potter pudesse sequer registrar sua aproximação, ele desceu o punho na cara do infeliz.
~~*~~
Ron ainda estava tonto com a força dos feitiços quando viu Draco partir para cima de Harry, e ficou chocado. Por um ou dois instantes, até mesmo teve pena de Harry. Por mais que sua ossatura frágil, sua falta de músculos e sua barriga inchada de oito meses indicassem fraqueza, Draco tinha uma força física respeitável. Isso ficou evidente quando ele começou a socar cada parte disponível do corpo de Harry, mas a vantagem durou apenas alguns segundos até Harry reagir, socando Draco com igual força ou maior. E rapidamente ficou evidente que Draco perderia. Ele tentava resistir, mas Harry o estava empurrando em direção a parede, e só Merlin sabia o que aconteceria com Draco uma vez que ele estivesse encurralado ali.
Foi esse pensamento que despertou Ron de seu choque. Ele precisava fazer alguma coisa, e rápido, porque Draco acabara de se chocar com força contra a parede. Poderia colocar um feitiço escudo entre os dois, ou deixar Harry inconsciente, mas, por algum motivo, não foi capaz de lembrar de nenhum feitiço, talvez porque sua testosterona estivesse em um nível alarmantemente alto. Então, sem pensar direito no que fazia, ele jogou a varinha no sofá, contornou a mesinha e se enfiou no meio dos dois, bem a tempo de receber um soco nas costelas. Ele praguejou com a dor e, pela primeira vez, odiou Harry de verdade.
Estavam agora num amontoado de socos, chutes e xingamentos, com Harry de um lado dele e Draco de outro, embora, na confusão, Ron não soubesse dizer mais quem o atacava buscando acertar o outro. Alguém acertou sua barriga com um soco, e ele reagiu sem pensar, devolvendo na mesma moeda e atingindo uma barriga inchada e endurecida, cujo dono foi ao chão. Ron sequer teve tempo para sentir remorso até outro soco forte acertar suas costelas. Endireitou-se e agarrou Harry pela capa.
“PÁRA COM ISSO!”
“VÁ À MERDA!” - gritou Harry de voltava, ainda tentando atingi-lo - “SEU TRAIDOR, SEU...”
“EU ESTAVA BÊBADO! EU NUNCA...”
“Ron!”
“NÃO MINTA PARA MIM! VOCÊ SABIA O QUE FAZIA, VOCÊ E DRACO, VOCÊS DOIS...”
“NÓS ESTÁVAMOS BÊBADOS, EU JÁ DISSE! HARRY, POR FAVOR...”
“Ron!”
Ele desviou o olhar de Harry e virou a cabeça para Draco, caído no chão perto dele.
“O que foi!?”
“Os... bebês... vão... nascer.”
Tudo parou. Até Harry deixou de socá-lo e olhou para Draco.
“Como?”
Draco parecia sem ar, respirando muito depressa. Segurava a barriga com força.
“Os... bebês... vão...”
Guinchou de dor e se inclinou para frente, arfando, sem conseguir terminar a frase.
“Mas eu” - disse Ron, atordoado, sem perceber que soltara a capa de Harry - “achei que eles eram só para o mês que vem.”
“Você deve ter apressado as coisas com aquela cotov... ai!”
Ron desviou o olhar de um Draco encolhido no chão e virou-se novamente para Harry, que estava muito pálido. Nenhum dos dois falou nada enquanto se encaravam, enquanto um dos olhos de Harry ficava cada vez mais roxo. O estado de imobilidade só foi rompido com um gemido mais alto vindo do chão.
“Eu acho melhor” - disse Harry muito devagar - “ajudarmos Draco.”
Ron assentiu, sem perceber que estava trêmulo de tanto nervosismo.
~~*~~
Passadas várias horas naquele silêncio, Ron, com a cabeça encostada na parede, estava frustrado com sua incompetência para conversar com Harry. Sabia que tinha que falar alguma coisa para consertar aquilo. Poderia pedir desculpas, mas de quê? Da briga ou da traição?
Ele estava bêbado, lembrou-se. Mas aquela desculpa era fraca. Bebida nenhuma sozinha provocaria o que ele fez. Ele quisera, mesmo sabendo que estava traindo. Sentado no corredor vazio do hospital ao lado de Harry, ouvindo os ruídos constantes de um relógio pendurado na parede, ele se sentiu sufocado pelo nervosismo e pela culpa.
“Você gosta dele?” - perguntou Harry de repente, em tom casual, como se estivesse procurando uma informação sobre o tempo.
Ron desencostou a cabeça da parede para encará-lo. Surpreendentemente, ele estava sorrindo.
“Gosta?”
Ron ficou em silêncio, pensando, e lembrou do dia que ele e Draco haviam arrumado o quarto dos bebês, quando ainda não havia problemas. Parecia uma eternidade antes.
“Não sei” - confessou ele - “E você?”
Harry pareceu achar que aquele era um momento ótimo para examinar as próprias unhas.
“Faz diferença?”
“Claro que sim!”
“Ele me odeia, Ron. Nunca mais vai acontecer nada.”
“Então, você gosta.”
Ele desviou o olhar das unhas para ele.
“Sim” - declarou após uma breve pausa.
Parte do oxigênio pareceu ser retirada do ambiente de um momento para o outro, mas, de alguma forma, Ron estava mais calmo.
“Eu acho que ele gosta de você, Harry. Outro dia, ele...”
“Não” - interrompeu Harry com firmeza - “Não. Ele me odeia, tenho certeza. Você viu como ele foi para cima de mim.”
“Mas você também apontou a varinha para ele.”
Harry sorriu fracamente.
“Isso era algo que eu queria pedir desculpas. Eu não devia ter entrado no seu apartamento daquele jeito, e... e ter quase o explodido. Eu não sei o que eu estava pensando. Devia estar louco.”
Ron lembrou da vez que falara algo parecido para Draco depois de quase matá-lo, e sentiu compreensão por Harry.
“Não, você estava com raiva.” - fez uma breve pausa para tomar coragem antes de continuar - “Eu também queria pedir desculpas.”
Harry só continuou olhando, quase curioso.
“Por tudo, Harry. Por ter traído você e Hermione, por ter entrado naquela briga, eu...”
“Tudo bem.”
Mas Ron sabia que não estava tudo bem. Por um longo tempo, meses ou anos, ou talvez até para sempre, as coisas não estariam bem entre eles. Não como eram antes.
“Sabe” - disse Harry com um risinho sem humor, depois de alguns minutos calado - “eu estou pensando que não deveria ter ido embora depois da festa de Natal. Talvez tudo tivesse sido muito menos complicado.”
Ron não conseguiu formular nada bom o suficiente para responder. Instantes depois, o relógio bateu, marcando meia-noite. Foi quando ele percebeu que dia acabara de começar.
31 de julho.
Sentiu vontade de rir. Gargalhar até estar histérico, até estar a beira das lágrimas de riso. Porque era o que aquela coincidência desgraçada merecia. Rir, rir e rir, e, depois de ter se recuperado, desejar a Harry um feliz aniversário. Boa piada.
Ficou observando os ponteiros do relógio acima da porta se moverem, enquanto pensava na injustiça daquele mundo, numa espera lenta na qual o nervosismo por Draco e os gêmeos voltava a mostrar sua força. Em um silêncio que Harry não parecia disposto a romper.
Então a espera subitamente acabou.
~~*~~
Acompanhado por Fletcher, um tímido estagiário, Dr. Hall abriu a porta que dava para o corredor, encontrando dois homens jovens sentados com ar chateado, que rapidamente se levantaram quando perceberam sua presença.
“Estão aqui com Draco Lucius Malfoy?”
Os dois assentiram.
“A demora não foi normal” - comentou ele, exausto - “Demoramos quase quatro horas para estabilizar as contrações. Algo o deixou muito nervoso.”
Os dois se entreolharam com ar culposo.
“Enfim” - continuou o Dr. Hall, consultando sua prancheta - “O primeiro bebê nasceu à meia noite e oito minutos, e o segundo à meia noite e doze minutos. São dois meninos saudáveis. O Sr. Malfoy está inconsciente, mas eles podem ser vistos na enfermaria. ” - Levantou os olhos para encarar os dois homens - “Qual de vocês é o outro pai?”
Um silêncio constrangedor pairou no ar. Dr. Hall ergueu as sobrancelhas enquanto esperava uma resposta que não viria, e achou que entendera o motivo pelo qual Malfoy não lhe contara quem era o outro pai na primeira consulta. Ouviu uma exclamação de Fletcher atrás dele ao mesmo tempo em que reparava na cicatriz em forma de raio na testa do homem de cabelos negros, e foi quando achou que realmente entendera.
“Bem,” - falou ele, franzindo a testa - “venham comigo.”
Deu as costas para retornar ao caminho pelo qual viera, ouvindo os dois trotarem as suas costas e andando lado a lado com um ainda boquiaberto Fletcher, que olhava para trás a cada minuto. Atravessaram um longo corredor deserto, viraram uma esquina e entraram por uma porta logo depois, parando em uma ante-sala com paredes brancas, com uma medibruxa sentada atrás de uma mesinha, lendo a última edição do Semanário das Bruxas, que levantou os olhos da revista ao ouvir a porta abrir.
“Os bebês Malfoy.” - disse ele.
A medibruxa se levantou e desapareceu por uma segunda porta. Hall ficou parado, ouvindo as respirações ansiosas atrás dele. Finalmente, a medibruxa voltou com duas outras, que seguravam um pequeno embrulho cada uma.
Ninguém falou nada enquanto os dois homens se adiantavam para o lado dele, parecendo nervosos. Vendo que nenhum deles tinha coragem para fazer aquilo, Hall se adiantou e afastou os paninhos que cobriam parte da cabeça dos bebês.
Potter engasgou com a própria saliva, e seu amigo, que parecia agora ter voltado a respirar regularmente, teve que dar alguns tapas nas costas dele para socorrê-lo.
“Parabéns” - falou ele para Potter assim que ele voltou ao normal, enquanto olhava as pequenas crianças rosadas e com cabelos pretos - “Eles são iguais a você.”
~~*~~
Harry ainda se encontrava em estado de choque meia hora depois, quando ele e Ron andavam por um corredor em direção ao quarto onde o Dr. Hall lhes dissera que Draco estava.
“Eu não posso fazer isso” - balbuciou ele de repente, parando no meio do caminho.
Ron parou também e virou-se para ele.
“Harry, você é o pai dos gêmeos. É você que tem que entrar primeiro, não eu.”
“Eu não posso fazer isso” - repetiu ele - “Draco vai me matar no momento em que me vir.”
“Draco não vai ter condições para levantar da cama, Harry” - lembrou ele, quase exasperado - “E a varinha dele está comigo.”
Harry ficou em silêncio por algum tempo, inseguro.
“Tem que ser você, Ron.”
“Harry, você é...”
“Eu sei que sou, mas ele não vai me ouvir. E eu acho que ele gostaria que você entrasse primeiro.”
“Mas, Harry...”
“Por favor.”
Ron o encarou durante alguns segundos. Ele não queria entrar e transmitir a notícia, mas Harry não estava preparado para falar com Draco ainda. Resignado, ele assentiu com a cabeça e deu meia-volta para continuar o caminho, deixando-o plantado no meio do corredor. Quando chegou à porta certa, respirou fundo e entrou.
~~*~~
Quando ele acordou, sua mente estava confusa como se estivesse dormindo há vários dias. Enquanto tentava distinguir algo na penumbra do lugar iluminado apenas por uma lamparina ao seu lado, começou a lembrar o que acontecera. Ron, Potter, água, um buraco na parede, dor.
Foi quando percebeu a falta do peso na barriga. Mais confuso ainda, passou a mão em cima, só para sentir um abdômen liso. Nada de chutes dolorosos. Lembrou então do rosto do Dr. Hall, e entendeu tudo o que acontecera.
Olhou para um lado e para o outro no quarto, mas seus bebês não estavam em lugar nenhum. Tentou se levantar, mas a fraqueza nos músculos e uma dor repentina na barriga, como se um punhal tivesse sido transpassado ali, fez com ele caísse sob a cama, praguejando. Ele ia matar um daqueles dois por causar isso a ele. Aliás, queria saber onde eles estavam.
Passou vários minutos deitado no escuro, e estava começando a se sentir angustiado quando a porta se abriu, fazendo-o fechar os olhos pela luminosidade excessiva. Quando a porta fechou com uma suave batida, julgou prudente abri-los de novo.
“Draco?”
Ele distinguiu a silhueta alta dele antes mesmo que estivesse ao lado da cama, a iluminação falha da lamparina deixando seu rosto ainda mais pálido do que de costume. Draco sentiu um bolo na garganta, e teve que pigarrear antes de falar.
“Onde estão meus filhos?” - perguntou ele, estranhando sua voz anormalmente rouca.
“Na enfermaria. São dois meninos. Eles estão bem.”
“São seus?”
O tempo se arrastou na breve hesitação dele, antes que negasse com a cabeça.
“Harry.”
Draco sentiu um alívio tão grande que quase o envergonhou. Sua vida financeira estava salva. Por alguns instantes, se permitiu saborear a possibilidade de recuperar Malfoy Manor. Fixou o olhar no rosto impassível de Ron e sentiu algo doloroso romper a superfície.
“Onde está ele?”
“Lá fora.”
“Covarde.”
“Ele não é covarde” - defendeu-o Ron - “Ele só... ele só quis que eu entrasse antes.”
“Sua lealdade é comovente.” - comentou Draco, observando Ron fechar a cara - “Você está chateado?”
“Como?”
“Chateado porque os bebês não são seus.”
Ron demorou um segundo a mais do que o necessário para responder.
“Claro que não! Digo... eu estou me sentindo aliviado. Eu não poderia sustentar os bebês, você sabe.”
O pensamento tinha lógica, mas Draco sabia que alguma coisa estava errada. A pequena dor que ele sentia cresceu um pouco.
“Você não parece aliviado.”
“Eu estou” - afirmou ele com convicção.
“Então qual é o seu problema? E não me diga que está tudo bem.”
Houve um silêncio de ouvir as batidas de ambos os corações.
“Não é nada” - murmurou Ron, abaixando os olhos e brincando com as cobertas.
Foi quando Draco teve certeza. Seria melhor para ele ignorar aquilo, mas algo o fez deslizar a mão até alcançar os dedos dele.
“O seu problema” - disse ele - “é que você está apaixonado por mim.”
Ron estremeceu quando sentiu a mão dele, e seu olhar era algo assustadiço.
“Não importa.”
“É Potter o problema?”
Ele confirmou com a cabeça.
“Ele gosta de você.”
“Não me importo.”
“Mas eu sim!” - exclamou Ron, em tom escandalizado, puxando a mão para longe da dele - “Ele é o meu melhor amigo!”
Ele andou uns passos para longe dele, como se temesse o que ele pudesse fazer. Depois de certa hesitação, enfiou a mão no bolso e tirou a varinha de Draco, depositando-a em cima da mesinha ao lado da cama.
“Nunca daria certo” - murmurou ele - “E agora você...”
“Você não sabe” - disse Draco, quase com raiva dele, se apoiando nos cotovelos para olhá-lo melhor - “É covarde também, se recusando a enfrentar Potter.”
“Merlin, Draco! Você tem dois filhos! Não pode nem pensar em algo assim!”
“Diga por que.”
Ron emitiu um som que poderia significar tanto irritação quanto impaciência. Ou ambos.
“Porque você tem que cuidar deles, caramba.” - respondeu ele - “Não existe espaço para mim.”
“Você tem uma péssima auto-estima.”
“É verdade!” - guinchou ele - “E, também... você tem resolver as coisas com Harry. Não só a questão do dinheiro para os bebês.”
Draco ficou processando a frase por alguns segundos, incapaz de acreditar que Ron quisera dizer o que achara que ele quisera.
“Eu nunca” - disse ele, pronunciando cada sílaba - “ficaria com Potter outra vez.”
Não adiantava falar, ele sabia. Ron estava convencido de que tinha que sair do caminho. Draco deixou-se cair de novo sob o colchão, cravando o olhar no teto, querendo sair dali e esganá-lo por ser tão estúpido, ou fazer qualquer coisa, menos admitir que ele estava com a razão.
“As coisas mudam, Draco.” - disse ele, aproximando-se de novo na cama - “Você não sabe o que vai acontecer daqui para frente. Eu não quero atrapalhar nada.”
Ele continuou olhando o teto.
“Eu odeio o seu heroísmo grifinório, idiota.” - disse ele, sem desviar o olhar.
Podia jurar ter entrevisto um sorrisinho antes que ele se virasse para ir até a porta, fechando-a com a mesma suave batida depois que saiu. Deitado sob a fraca iluminação da lamparina, Draco percebeu o que era a dor que ele sentira.
Era perda.