Boa tarde. Queria um quarto, por favor.
'Aqui está, pois, o seu quarto(...). Vai até à janela, afasta as diáfanas cortinas brancas, sobe a persiana. Lá em baixo está a praceta em forma de V, com a sua fonte e as roseiras que se esforçam por medrar, os seus bancos de pedra vazios. Tem de novo a sensação de ter entrado num sonho - um sonho em que olha para este jardim peculiar, tão desabitado, pouco depois das duas horas da tarde. Afasta-se da janela e descalça os sapatos. Põe o seu exemplar de Mrs. Dalloway no tampo de vidro da mesa de cabeceira e estende-se na cama. O quarto está impregnado do silêncio especial que predomina nos hotéis, um silêncio cuidado, absolutamente artificial, estendido em camadas sobre uma base de estalos e gorgolejos, de rodas sobre alcatifas.
Está tão longe da sua vida. Foi tão fácil.
Parece, não sabe porquê, que saiu do seu mundo e entrou no mundo do livro.'
As Horas, Michael Cunningham
(Não gosto da maneira como o livro está escrito. Não tive curiosidade em ver a Nicole Kidman com um nariz de plástico. Mas foi um prazer conhecer a senhora Brown.)