Sydney não tinha culpa, embora se sentisse uma pervertida. A iluminação que fizera algo com a figura do vizinho durante a manhã tinha o dobro do impacto com a luz do sol no entardecer. Enquanto preparava a câmera, escondida de novo atrás do batente, ela considerou que ele parecia uma boa pessoa; talvez se pedisse para fotografá-lo, como fazia com as pessoas no parque, ele concordasse em vez de chamar a polícia.
Ela se posicionou para capturar a imagem do homem, espalhado sobre uma cadeira na varanda com as pernas cruzadas e os calcanhares apoiados na grade do parapeito. O vizinho não devia gostar de altura, sempre ficava longe da beirada do resguardo. Como na manhã, ela não via seu rosto, somente a cabeleira bagunçada e agitada pelo vento. Ele continuava com a camisa azul, devia ter chegado do trabalho há pouco tempo.
A mulher regulou o foco e disparou a câmera, deixando para se repreender depois. Tomou cuidado extra para não fazer barulho e não acionar nada indesejado no aparelho. A luz diminuía muito rápido naquele horário, e ela apressou-se em registrar o máximo possível de imagens.
O vizinho se moveu, e ela seguiu batendo as fotos. Estavam ficando boas, embora cada vez mais escuras. Salvaria ao menos parte do material. A mão dele pendeu com um recipiente fumegante, que ele depositou no chão ao seu alcance. Era chá, pelo aroma que se espalhou com a mudança da brisa.
Sydney ficou na ponta dos pés para mudar o ângulo. Ainda melhor. O rosto dele virou, e ela demorou-se um instante estudando-o pelo zoom da lente. Ele tinha um belo perfil. A artista não mostrava rostos em suas fotos e considerou se era tarde para uma exceção. Bateu a fotografia antes de pensar demais, e ele virou ainda mais. Seus olhos eram verdes…
A fotógrafa parou, fitando-o pela câmera. E ele sorriu. "Boa noite." Tinha sotaque britânico e um sorriso simpático. Desconfiado, mas simpático.
O que fazer quando a pessoa que você está fotografando em segredo descobre que está sendo fotografada? - Ênfase na falta de consentimento. O coração da fotógrafa palpitou.
Ele ainda sorria de leve, curioso. E a demora dela em responder deixava a situação mais horrível a cada segundo de chocado silêncio. Sydney não tinha como esconder a máquina em suas mãos direcionada para ele - diretamente e inconfundivelmente para ele.
Então ela girou o corpo noventa graus. Fotografou o horizonte uma vez e voltou-se. Abaixou o aparelho. "Oi!" Acenou com a mão esquerda. "Como vai? Eu, ahm, me distraí." Balançou a câmera, como uma idiota. Pensou em se jogar da sacada, mas isso atrairia ainda mais atenção indesejada. "Eu estava fotografando a…" Apontou para o ambiente em geral. "Vista."
O homem concordou com a cabeça. Sua expressão ficou mais séria. Ele afastou a caneca no chão da varanda, erguendo-se do encosto confortável. "Espero não estar atrapalhando."
"Não! Não se preocupe." Ela agitou as mãos. "Eu é que peço desculpas. Eu me distraí e fotografei você." Apertou os lábios. Não tinha por que mentir, fora flagrada. "Por favor, não chame a polícia."
O inglês juntou as sobrancelhas.
A mulher tentou remendar: "Eu não fotografo rostos. É que a estética da sua posição estava… favorável. E eu tenho uma exposição em alguns dias - não que eu vá expor as suas fotos! Eu não faço isso sem o consentimento das pessoas. É que eu gostei da sua pose." Repreendeu-se por balbuciar. "E da sua camisa." Parou de falar antes de criar mais constrangimento.
Ele a fitava com ar indecifrável. Então passou a mão pelos cabelos, embaraçado. "Você é fotógrafa," concluiu. Estava escurecendo, mas ela percebeu o leve enrubescer na face dele.
"Sim. Eu tenho um cartão da galeria aqui em algum lugar." A mulher remexeu na case da câmera. Encontrou um dos pequenos papéis e… Estavam a mais de cinco metros de distância, a quatro andares de altura. Ele não conseguiria alcançar o cartão mesmo que ela se pendurasse no lado externo do parapeito. Sydney exalou o ar. A gafe, o flagra, a última vez que passara por uma situação tão constrangedora fora antes de terminar a faculdade. Ela abaixou a cabeça. "Me desculpe." Abriu um compartimento na câmera. "Eu não devia ter fotografado sem você saber. Pode ficar com o cartão de memória."
"Mas e a sua exposição?" A voz dele era grave, porém suave. Ela o fitou, surpresa. "Você disse que não expõe rostos. Minha identidade ficará segura," ele completou.
Ela ergueu as sobrancelhas. "Eu posso mesmo usar suas fotos?"
"Eu acho que sim. Se eu puder ver a exposição…" Corrigiu-se na mesma hora: "Digo, não que você tenha que expor as minhas fotos. Você é a profissional. Você quem sabe quais fotos são melhores." Agora sim ele estava vermelho. "O que eu quero dizer é que você é minha vizinha e eu gostaria de ajudar. Pode usar as minhas fotos. Se-se achar que ficaram adequadas."
Silêncio.
Sydney sentiu o próprio sorriso mais que percebeu. "Seria ótimo. Obrigada!" Ela soltou a câmera, deixando-a pender pela alça em seu pescoço. "Eu sou Sydney." Aproximou-se do parapeito mais próximo dele. Sentia-se menos como uma criminosa. "Sydney Fox. É um prazer conhecê-lo."
Ele ficou de pé. "Nigel Bailey. O prazer é meu." Enfiou as mãos nos bolsos da calça. Permaneceu longe da beirada.
A mulher apoiou as mãos sobre o peitoril. "Bem vindo, Nigel. Está gostando do condomínio? Além da fotógrafa excêntrica que mora ao lado, é claro."
Os dois riram, em agradável sincronia. "Sim. Estou terminando de mobiliar." Ele gesticulou indicando a parede. "Desculpe se eu perturbei com barulho nos últimos dias. Ainda estou me acostumando com os horários. É a primeira vez que moro em um apartamento."
Sydney balançou a cabeça. "Não se preocupe com isso. O que você faz? - Se não se importa, é claro."
"Sou assistente de ensino, em Trinity."
Ela sorriu. Conhecia várias pessoas daquela faculdade. "Faço atividades no campus, vez e outra…" Observou a reação dele. O homem não demonstrou aborrecimento, então ela completou: "Talvez nos encontremos por lá."
Nigel sorriu. "Seria ótimo."
Ela assentiu, contente. Mordeu os lábios. "Então eu vou…" Apontou por sobre o ombro com o polegar. "Obrigada por me deixar usar suas fotos. Vou editá-las e se ficarem boas, te mostro."
O inglês concordou e levantou a mão num breve aceno. "Ok. Bom trabalho."
Sydney afastou-se do parapeito, agradecendo.
Ambos se deram as costas, mas a mulher espiou novamente antes de entrar. Ele sentara-se na cadeira.
Nigel apanhou a caneca e olhou para o sol, que lançava os últimos raios do dia no horizonte. Ficara pensativo, como naquela manhã. Só que desta vez Sydney via o sorriso tranquilo em seu rosto.
A fotógrafa levantou a câmera. Regulou o aparelho e parou.
"Nigel?"
O homem virou-se para ela, sem soltar a caneca. Sorriu, aguardando.
Ela bateu a foto. O flash iluminou todo o ambiente, e ela afastou o aparelho. "Boa noite."
Ele concordou com a cabeça. "Até logo."
A mulher foi para o estúdio. Só depois de horas se deu conta que as últimas fotos mostravam apenas o rosto dele. E foram as melhores.
es genial de principio a fin. Las descripciones son tan buenas que es como si estuviese ahí, viendo a los dos vecinos desde la ventana de mi propia casa.
Y este AU es un universo que en serio me encanta y debes explotar más. De verdad. Necesito más de esta historia!!!!
Eu fico tão super imensamente feliz quando você gosta da história, obrigada por comentar, minha diva! Você fez o meu dia!
Estes primeiros encontros foram uma delícia de escrever. Eu não tinha pensado em fazer continuação, mas agora que você mencionou isso, gostei da ideia. Obrigada por comentar e por me encher de felicidade, Cris!
Um milhão de beijos, minha diva mais linda, minha flor mais bela! Love you!!
Aguardo os próximos festivais, espero que todas nós possamos participar e ler mais histórias umas das outras, porque você é minha escritora favorita! Beijooooooooooooo!
Sydney não tinha culpa, embora se sentisse uma pervertida. A iluminação que fizera algo com a figura do vizinho durante a manhã tinha o dobro do impacto com a luz do sol no entardecer. Enquanto preparava a câmera, escondida de novo atrás do batente, ela considerou que ele parecia uma boa pessoa; talvez se pedisse para fotografá-lo, como fazia com as pessoas no parque, ele concordasse em vez de chamar a polícia.
Ela se posicionou para capturar a imagem do homem, espalhado sobre uma cadeira na varanda com as pernas cruzadas e os calcanhares apoiados na grade do parapeito. O vizinho não devia gostar de altura, sempre ficava longe da beirada do resguardo. Como na manhã, ela não via seu rosto, somente a cabeleira bagunçada e agitada pelo vento. Ele continuava com a camisa azul, devia ter chegado do trabalho há pouco tempo.
A mulher regulou o foco e disparou a câmera, deixando para se repreender depois. Tomou cuidado extra para não fazer barulho e não acionar nada indesejado no aparelho. A luz diminuía muito rápido naquele horário, e ela apressou-se em registrar o máximo possível de imagens.
O vizinho se moveu, e ela seguiu batendo as fotos. Estavam ficando boas, embora cada vez mais escuras. Salvaria ao menos parte do material. A mão dele pendeu com um recipiente fumegante, que ele depositou no chão ao seu alcance. Era chá, pelo aroma que se espalhou com a mudança da brisa.
Sydney ficou na ponta dos pés para mudar o ângulo. Ainda melhor. O rosto dele virou, e ela demorou-se um instante estudando-o pelo zoom da lente. Ele tinha um belo perfil. A artista não mostrava rostos em suas fotos e considerou se era tarde para uma exceção. Bateu a fotografia antes de pensar demais, e ele virou ainda mais. Seus olhos eram verdes…
A fotógrafa parou, fitando-o pela câmera. E ele sorriu. "Boa noite." Tinha sotaque britânico e um sorriso simpático. Desconfiado, mas simpático.
O que fazer quando a pessoa que você está fotografando em segredo descobre que está sendo fotografada? - Ênfase na falta de consentimento. O coração da fotógrafa palpitou.
Ele ainda sorria de leve, curioso. E a demora dela em responder deixava a situação mais horrível a cada segundo de chocado silêncio. Sydney não tinha como esconder a máquina em suas mãos direcionada para ele - diretamente e inconfundivelmente para ele.
Então ela girou o corpo noventa graus. Fotografou o horizonte uma vez e voltou-se. Abaixou o aparelho. "Oi!" Acenou com a mão esquerda. "Como vai? Eu, ahm, me distraí." Balançou a câmera, como uma idiota. Pensou em se jogar da sacada, mas isso atrairia ainda mais atenção indesejada. "Eu estava fotografando a…" Apontou para o ambiente em geral. "Vista."
O homem concordou com a cabeça. Sua expressão ficou mais séria. Ele afastou a caneca no chão da varanda, erguendo-se do encosto confortável. "Espero não estar atrapalhando."
"Não! Não se preocupe." Ela agitou as mãos. "Eu é que peço desculpas. Eu me distraí e fotografei você." Apertou os lábios. Não tinha por que mentir, fora flagrada. "Por favor, não chame a polícia."
O inglês juntou as sobrancelhas.
A mulher tentou remendar: "Eu não fotografo rostos. É que a estética da sua posição estava… favorável. E eu tenho uma exposição em alguns dias - não que eu vá expor as suas fotos! Eu não faço isso sem o consentimento das pessoas. É que eu gostei da sua pose." Repreendeu-se por balbuciar. "E da sua camisa." Parou de falar antes de criar mais constrangimento.
Ele a fitava com ar indecifrável. Então passou a mão pelos cabelos, embaraçado. "Você é fotógrafa," concluiu. Estava escurecendo, mas ela percebeu o leve enrubescer na face dele.
"Sim. Eu tenho um cartão da galeria aqui em algum lugar." A mulher remexeu na case da câmera. Encontrou um dos pequenos papéis e… Estavam a mais de cinco metros de distância, a quatro andares de altura. Ele não conseguiria alcançar o cartão mesmo que ela se pendurasse no lado externo do parapeito. Sydney exalou o ar. A gafe, o flagra, a última vez que passara por uma situação tão constrangedora fora antes de terminar a faculdade. Ela abaixou a cabeça. "Me desculpe." Abriu um compartimento na câmera. "Eu não devia ter fotografado sem você saber. Pode ficar com o cartão de memória."
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Ela ergueu as sobrancelhas. "Eu posso mesmo usar suas fotos?"
"Eu acho que sim. Se eu puder ver a exposição…" Corrigiu-se na mesma hora: "Digo, não que você tenha que expor as minhas fotos. Você é a profissional. Você quem sabe quais fotos são melhores." Agora sim ele estava vermelho. "O que eu quero dizer é que você é minha vizinha e eu gostaria de ajudar. Pode usar as minhas fotos. Se-se achar que ficaram adequadas."
Silêncio.
Sydney sentiu o próprio sorriso mais que percebeu. "Seria ótimo. Obrigada!" Ela soltou a câmera, deixando-a pender pela alça em seu pescoço. "Eu sou Sydney." Aproximou-se do parapeito mais próximo dele. Sentia-se menos como uma criminosa. "Sydney Fox. É um prazer conhecê-lo."
Ele ficou de pé. "Nigel Bailey. O prazer é meu." Enfiou as mãos nos bolsos da calça. Permaneceu longe da beirada.
A mulher apoiou as mãos sobre o peitoril. "Bem vindo, Nigel. Está gostando do condomínio? Além da fotógrafa excêntrica que mora ao lado, é claro."
Os dois riram, em agradável sincronia. "Sim. Estou terminando de mobiliar." Ele gesticulou indicando a parede. "Desculpe se eu perturbei com barulho nos últimos dias. Ainda estou me acostumando com os horários. É a primeira vez que moro em um apartamento."
Sydney balançou a cabeça. "Não se preocupe com isso. O que você faz? - Se não se importa, é claro."
"Sou assistente de ensino, em Trinity."
Ela sorriu. Conhecia várias pessoas daquela faculdade. "Faço atividades no campus, vez e outra…" Observou a reação dele. O homem não demonstrou aborrecimento, então ela completou: "Talvez nos encontremos por lá."
Nigel sorriu. "Seria ótimo."
Ela assentiu, contente. Mordeu os lábios. "Então eu vou…" Apontou por sobre o ombro com o polegar. "Obrigada por me deixar usar suas fotos. Vou editá-las e se ficarem boas, te mostro."
O inglês concordou e levantou a mão num breve aceno. "Ok. Bom trabalho."
Sydney afastou-se do parapeito, agradecendo.
Ambos se deram as costas, mas a mulher espiou novamente antes de entrar. Ele sentara-se na cadeira.
Nigel apanhou a caneca e olhou para o sol, que lançava os últimos raios do dia no horizonte. Ficara pensativo, como naquela manhã. Só que desta vez Sydney via o sorriso tranquilo em seu rosto.
A fotógrafa levantou a câmera. Regulou o aparelho e parou.
"Nigel?"
O homem virou-se para ela, sem soltar a caneca. Sorriu, aguardando.
Ela bateu a foto. O flash iluminou todo o ambiente, e ela afastou o aparelho. "Boa noite."
Ele concordou com a cabeça. "Até logo."
A mulher foi para o estúdio. Só depois de horas se deu conta que as últimas fotos mostravam apenas o rosto dele. E foram as melhores.
- Fim -
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En serio!
Muerta del todo!
es genial de principio a fin. Las descripciones son tan buenas que es como si estuviese ahí, viendo a los dos vecinos desde la ventana de mi propia casa.
Y este AU es un universo que en serio me encanta y debes explotar más. De verdad. Necesito más de esta historia!!!!
Enhorabuena por este fic maravilloso!
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Eu fico tão super imensamente feliz quando você gosta da história, obrigada por comentar, minha diva! Você fez o meu dia!
Estes primeiros encontros foram uma delícia de escrever. Eu não tinha pensado em fazer continuação, mas agora que você mencionou isso, gostei da ideia. Obrigada por comentar e por me encher de felicidade, Cris!
Um milhão de beijos, minha diva mais linda, minha flor mais bela! Love you!!
Aguardo os próximos festivais, espero que todas nós possamos participar e ler mais histórias umas das outras, porque você é minha escritora favorita! Beijooooooooooooo!
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