May 06, 2004 13:10
Há coisas que realmente...
Eu ando num curso de Psicologia. 4º ano. Para o ano faço estágio (ou seja, vou trabalhar a sério, com pessoas, com problemas reais!). É suposto eu ter alguma bagagem destes 4 anos para fazer algo que se assemelhe a decente no 5º ano.
Dava jeito, sabem...
Mas eu temo por vocês. Sim, vocês, cobaias de psicólogos e psiquiatras e médicos e afins. Porque vocês estão lixados. Ou têm muita sorte, ou estão lixados.
Passo a explicar...
Estávamos numa aula de revisões com um professor cinco estrelas. A sério, é um professor fenomenal. É daqueles que a gente quer empacotar [sem engelhar], trazer para casa e pedir para que ele fale. Simplesmente fale. O supra-sumo da inteligência. E dispensa palavras caras. O que ele quer é que nós percebamos. A sério, adoro o senhor.
Estávamos na sua aula e ele pediu que lhe puséssemos questões, dúvidas que tivéssemos.
Não é que uma colega lhe pergunta o seguinte:
Se uma pessoa não tiver relações amorosas/sociais, isso tem implicações graves?
...
A sério, isto baralha-me os neurónios todos. Quando ouvi aquilo, até o queixo me caiu ao chão.
Mas a miúda teve a dormir estes quatro anos todos? Mas o que é que se passa aqui? Será que ela tava a gozar? Perguntar se uma pessoa que não se socializa terá consequências graves no seu desenvolvimento? Mas o que é isto?
Para onde foram as horas intermináveis de "o ser humano é um ser social"; "a nossa compreensão do mundo constrói-se a partir da experiência que temos das outras pessoas". Será que ela não sabe que 99,99% das patologias têm primariamente um fundo social? Que é a relação que as pessoas estabelecem entre si que garante a patologia ou a sanidade? Que a própria terapia é uma relação?
A sério. Eu não acho isto normal. Uma pessoa que pergunta isto, no penúltimo ano do curso... opá, que merda.