[Fanfic] A Cidade da Garoa [1/2]

Dec 12, 2010 23:37

Título: A Cidade da Garoa 1
Personagens: São Paulo-centric, com cameos e participações especiais da família toda (mas principalmente PR, RJ e BA).
Rating/Advertência: Livre. Tirando por alguns palavrões, e porque Sampa merece seu próprio alerta. Consider yourself warned.
Sumário: Essa é uma história sobre como São Paulo na verdade é uma pessoa meiga e carinhosa que tem muitos sentimentos generosos em relação a tudo e todos e só quer passar um natal feliz com sua família querida. Sério mesmo. O problema são os outros.



Para viver numa área abarrotada de gente, é necessário ter uma psique especial

Will Eisner

São Paulo tinha previsto - não, tinha planejado - como ia ser. Nos mínimos detalhes mais importantes, ele tinha se programado para chegar, não na hora certa, já que ninguém naquela familia de loucos respeitava horários, iria chegar alguns poucos minutos atrasado e, depois que todos já estivessem sentados entretidos naquele papinho sem graça (making conversation, como ele diría com quem tinha cérebro e diploma o suficiente para entender suas gírias), ele chegaria, bateria na mesa e diria, resoluto:

A festa de amigo secreto será em São Paulo.

Sério.

Mesmo.

Até podía ser, ele admitia, que mais ninguém ali tivesse consultado o calendário e visto que, nesse ano, o Natal e o Ano Novo tinham caído nas piores datas, mas fato é que tinham. E ele tinha consultado, droga, porque ele trabalhava o ano inteiro, e não era agora, por causa de duas festas, que ele ia parar. Então ponto, é isso, ou a festa é em São Paulo (e não quero ver ninguém discutindo nem fazendo cara feia, eu decorei aquelas merdas sozinho e já está tudo pronto), ou não há festa nenhuma.

Foi isso que ele planejou, não ensaiou na frente do espelho porque isso é coisa de viado, comprou uma passagem para um avião que já o deixaria meia hora atrasado, tomou qualquer táxi e chegou na casa de Minas ANTES QUE TODO MUNDO.

Meu.

Como assim?

Paulo olhou em volta, o rastro que o táxi tinha deixado, virou-se para a porta de novo, conferiu o endereço (mas claro que ele estava careca de saber que Minas morava ali, não era como se fosse a primeira vez que ele iria ser anfitrião de uma briga reunião de família), e entrou hesitante, deixando a porta aberta atrás de si.

Sobre a mesa de madeira, tinha um bilhete escrito às pressas:

“Fui comprar queijo. A casa é de vocês.

P.S. Podem ir começando sem mim :)”

Paulo torceu a boca, largando o bilhete sobre a mesa e acomodando-se numa das poltronas. Francamente. Além de que isso arruinaria toda a sua grande cena - a não ser que ele ainda pudesse se levantar, assim que o 26º irmãozinho chegasse, e dar um tapa na mesa do mesmo jeito -, também era um jeito de garantir que ele perdesse o maior tempo do mundo, já que, meu, que horas são agora? Ainda falta uma semana pro Natal e essa galera já parou de trabalhar?

No tempo que levou para os outros chegarem, Paulo acabou se distraindo com seu celular - e, devido a tudo aquilo que tinha deixado inacabado em sua própria casa, com seu computador também - que acabou perdendo a conta e a noção de quem já estava ali e quem estava atrasado mesmo. Isso era um problema, já que ele tinha desistido de convencer o pessoal a usar crachás (“não precisa ser todo mundo, Paraná, óbvio que eu sei quem você é, mas e aqueles caras ali? Vai dizer que você sabe os nomes deles”), e também não dava para contar, pois ninguém ali parava quieto.

Bom, a Rio ainda não tinha chegado, pois ninguém estava fazendo barraco. O Paraná também não (puta sacanagem, já que ele também podía pegar um avião esperto) e Rio Grande do Sul também não, o que significava que ele estava com o outro boiola (o que era outra puta sacanagem, mas alguém me vê reclamando?).

Esses daqueles que ele conseguía lembrar assim fácil. A casa estava tão vazia que mais da metade de seus irmãos deveria estar atrasada.

Paulo acendeu um cigarro, seguro de que ninguém que já tinha chegado iria querer puxar papo com ele, quando um de seus irmãos de sangue quente parou à sua frente:

-E a Bahia?

Paulo franziu a testa, soltando a fumaça:

-Que tem ela?

-Vocês não iam vir juntos?

Essa era uma pergunta, uma hipótese tão doida, já que ele - Rio Grande do Norte? Pernambuco? - morava tão infinitamente mais perto dela que Paulo acabou deixando escapar um sorriso:

-Ué, não. Será que você não está me confundindo com outra pessoa?

O outro não devolveu o sorriso - Pernambuco. Ele era bem bravo, pelo que Paulo se lembrava. E agressivo também. Mas é Natal, certo?

Certo?

-Não, abestado, eu sei quem é você. Ela não estava na sua casa?

Paulo fumou devagar, medindo as próximas palavras. Era um… terreno perigoso esee aí. “Estava sim”, ele podía responder, e parar por aí. Mas então Pernambuco iria querer saber onde ela estava agora, aí Paulo teria que admitir que não tinha a mais pálida idéia.

Então haveria dois caminhos a se seguir, ou Pernambuco ia deixar quieto e de alguma forma usar isso para fortalecer sua teoria de que Paulo não tinha alma ou coração ou sentimentos instintos consideração ética humanidade e laços fraternais…

…ou iria puxar uma peixeira e acabar com o problema pela raíz mesmo. E mesmo com o cara bloqueando sua visão, Paulo ainda se lembrava de que não havia muita gente ali que entraria em sua defesa, então era melhor que sua resposta para aquela pregunta capciosa fosse:

-Ela foi embora no começo de dezembro.

Pernambuco assentiu, ainda olhando-o de cima para baixo, e depois voltou para o seu lugar, bem calmamente, passando a mensagem de que Paulo tinha sobrevivido àquele encontro.

Isso merecía outro cigarro, e logo seu celular tocou de novo, mais irmãos chegaram, ele teve que conferir os e-mails outra vez, o namoradinho de Minas chegou, Bahia também (e era bom que Pernambuco não quisesse confirmar com ela, porque, fala sério, desde quando é minha responsabilidade saber onde essa menina está?), Brasília também (argh, como eu odeio esse cara), Paraná e RS chegaram juntos (deixa, deixa), aquele povo que morava na floresta (é outra qualidade de vida, meu), mais três ou quatro ou cinco caras idênticos a Pernambuco, enfim, todo mundo.

Ou quase.

Minas, como anfitrião, tinha acabado de abrir a boca para dar a Palavra Inicial, quando a porta se abriu num estrondo.

Rio, ou um soldado muito parecido com ela, entrou marchando - colete à prova de balas, uma PUTA METRALHADORA PENDURADA NAS COSTAS, rosto pintado para a guerra, botas de montaria - e bateu na mesa.

-NATAL E ANO NOVO NA MINHA CASA. É PEGAR OU LARGAR.

O silêncio que se seguiu foi tão denso que o cigarro de Paulo se apagou sozinho. Ele virou os olhos para Minas (não podia arriscar virar a cabeça, senão Rio perceberia que ele estava ali) e tentou adivinhar se ele faria uma coisa, sei lá, oferecer água com açúcar. Ou um queijo. Com açúcar.

Claro, Minas também estava parado, completamente imóvel, na sua melhor imitação de Belo Horizonte. Paulo desviou o olhar para o namoradinho dele, que parecía nem respirar.

Ok, ele pensou, então é oficial. Eu também não estou aquí.

Rio poderia ter sido caridosa e parado por aí, mas quando é que aquela menina era caridosa? Ela tirou a METRALHADORA das costas, colocou-a em cima da mesa, bem ao alcance de Pernambuco, limpou o suor das costas, e disse, virando-se para encarar todo mundo e deixando o olhar pesar por dois segundos sobre cada um:

-Eu não vou abandonar a minha galera. Não devia nem estar aquí. Se vocês não quiserem pasar comigo, foda-se. Eu vou ficar em casa.

Alguns assentiram - muita coragem, já que qualquer movimento, por menor que fosse, acabava atraindo a atenção daquela barraqueira armada -, mas demorou até alguém conseguir falar em voz alta.

Quem, no caso, foi Brasília:

-No dia primeiro… você tem que ir na minha casa.

Rio virou-se para ele, aquele moleque sem noção que era bem mais novo. E mais fraquinho também, se alguém quisesse saber a opinião de Paulo.

Mas alguém quería? Of course not.

-Nós estamos trocando de chefe - Brasília continuou, sustentando o olhar dela o melhor que podía, o rosto só um pouco mais branco e voz só um tiquinho mais tensa - Todo mundo tem que estar lá.

Os olhares se viraram para Rio, que parecia mastigar ese convite/intimação/pedido.

Apontando o dedo bem no rosto de Brasília, ela disse entre dentes:

-Eu vou… e volto. Dia trinta e um e dia dois eu quero estar em casa.

Brasília não se abalou e Rio lhe deu as costas, andando até a mesa e pegando sua METRALHADORA. Ela andou até a porta até que, como se lembrasse de algo, parou e se virou para tras:

-Paulo.

Ai, Jesus.

Ele se virou para ela, o quarto cigarro já molhado entre os dedos suados, e não disse nada.

-Tira o nome para mim e verifica se não é o meu. Depois a gente marca para você me entregar.

Ah, claro, certo, tinha isso. O amigo secreto. E a merda foi essa, mesmo nos maiores planos podem haver falhas, podem haver imprevistos, e isso acaba forçando você, o cara em questão, a improvisar - e todos eles eram bons nissos, os brasileiros são bons nisso, Paulo sabia, tinha até teorías a respeito, eles sabiam improvisar - mas uma coisa era improvisar uma desculpa para um atraso, ou comprar rapidamente um sapato quando você está indo para uma entrevista e acaba pisando em bosta de cachorro, esses são improvisos fáceis e praticamente automáticos.

Mas não dá para improvisar direito, não dá para tirar do chapéu uma solução cabível e coerente, depois que você passou tanto tempo planejando uma coisa, uma fala, e de repente isso, de repente uma louca com uma droga de uma metralhadora e uma ordem direta na frente de vinte e cinco caras.

Foi por isso - e não porque Paulo não tivesse amor à vida - que ele acabou respondendo:

-É, então, sobre isso, sobre o amigo secreto, a gente tem que conversar.

Rio ergueu uma sobrancelha, ela já estava a meio caminho de ir embora, mas virou-se de forma a apoiar o lado do corpo sobre o batente.

-O quê?

-Então, eu - Paulo correu os dedos pelos cabelos, enquanto massacrava o cigarro na outra mão - vocês estavam planejando fazer a entrega de presentes no dia primeiro, certo? Lá em Brasília, certo?

-Certo - Brasília respondeu, devagar, como se sua RIDÍCULA segurança perto de Rio tivesse lhe dado toda essa superioridade - porque todos temos que estar lá.

-Deixa, cara - Rio disse - o Paulo pegou um pouco de trânsito e acabou de chegar na conversa. Agora fala logo, o que é que tem a entrega? Onde você quer chegar?

Essa patada de cavalo lhe deu forças para erguer o olhar para ela.

-Então, senhorita Rio de Janeiro, por mais que essa data tenha ficado boa para você e a sua “galera”, para mim não dá. Não sei se você tem calendário na sua casa, mas esse ano o Natal e o Ano Novo caíram na sexta-feira. E eu tenho que trabalhar.

-Nos dois? - Rio Grande do Sul ergueu as sobrancelhas, irritantemente perto de Paraná (não que qualquer pessoa se importe) - Que carma.

Paulo encolheu os ombros, sentindo-se ligeiramente mais leve. Foi uma sensação boa e extremamente rápida, questão de segundos, até o fdp de Brasília martelar o mesmo ponto pela terceira vez:

-Dia primeiro é sábado. Feriado nacional. Palavra chave: nacional. Você tem que estar lá.

Paulo respirou fundo. Agora o silêncio não era mais absoluto, longe disso. Todos aqueles que sentiam que poderiam acabar sendo envolvidos nessa discussão - uns três ou quatro - ainda mal respiravam. Fora esses, mais uns sete prestavam atenção só pelo prazer do barraco. Os outros já tinham começado a abrir a geladeira de Minas, conversar entre si, folhear revistas ou desencavar briguinhas antigas.

Paulo terminou de respirar fundo e disse:

-É, feriado nacional no sábado. Eu trabalho na sexta e na segunda, e você?

-Pega um avião.

-Eu trabalho a semana seguinte inteira. Isso cansa, merda. Não dá para eu ficar viajando de um lugar pro outro assim.

…e eu decorei a minha casa, decorei sozinho, eu nunca gastei tanto assim e não ia doer a gente pasar lá, ia? Só essa vez?

-Bom, Paulinho, você podía tentar tirar uns días fora - Bahia disse (quando ela tinha chegado?), dando de ombros. Não tinha nada a ver ela dar de ombros, não batia com o que ela estava falando ou com a situação em volta, então Babi provavelmente só estava fazendo isso para se exercitar - Aí você fica um tempinho lá em casa, naquela praia que você gosta, e depois nós vamos juntos. O que é que acha, meu rei?

Paulo mordeu o lábio inferior, como é que eu vou responder a isso? Não dá, eu não posso ir nessa praia, não essa- não essa coisa que é tão contra tudo, não esse lugar que é tão a minha própria antítese, eu não posso.

-Não importa como você vai fazer, mas você tem que dar um jeito - agora quem deu de ombros foi Brasília - Dia primeiro é para todo mundo. E, se não for nesse dia, quando é que a gente vai fazer a entrega de presentes? E onde?

Rio ergueu as mãos, lisa como era, já tirando o corpo fora:

-Dia primeiro estou fora de casa. Todos os outros não.

Paulo apertou a base do nariz:

-Eu tenho que trabalhar. Não dá para ficar viajando assim.

…e eu decorei a minha casa, decorei sozinho, eu nunca gastei tanto assim e não ia doer a gente pasar lá, ia?

Só essa vez?

-Mas então, Paulo… - Paraná começou, também devagar, mas a entonação dele, dessa vez, não era para marcar sua auto-suposta superioridade. Parecía até que ele estava querendo ajudar Paulo. Trè bizarre - o que é que você està querendo sugerir? Você pensou numa alternativa?

Paulo olhou para ele, as palavras nem mais entaladas na garganta, já estavam batendo nos dentes. Não precisa ser no dia primeiro, tem o Natal, pode ser? Só no Natal, todo mundo em casa, aí eu te dou um beijo debaixo do arco natalino que eu fiz, sozinho, no meio da Avenida Paulista, eu te dou um beijo, nós vinte e sete enchemos a cara, e aí eu penso se terei forças de viajar meio Brasil no dia primeiro.

As palavras estavam nos dentes. Se não olhasse para mais ninguém, se não visse aquela merda horrorosa e perigosa nas costas de Rio, talvez ele até conseguisse falar, ia conseguir, endireitou-se na poltrona e abriu a boca-

-quando Bahia perguntou, os olhos muito abertos:

-Você não quer participar do amigo secreto?

Silêncio absoluto.

Again.

-Eu ouvi certo? - Pernambuco tinha se levantado dos cafundós dos judas perdidos onde tinha se sentado, um sorriso mais brilhante que a Árvore de Natal do Parque do Ibirapuera, e tinha parado ao lado de Bahia - O abestado não vai participar esse ano?

-Acho que não - ela respondeu, murchando - Ó, Paulinho, não tem mesmo como você tirar uns días? A sua casa não vai cair se você descansar um pouco.

Paulo se virou para Brasília, tinha certeza de que ele iria falar alguma coisa, “dia primeiro é o raio que o parta blá-blá-blá”, mas ele estava quieto, espantado, também esperando por sua resposta.

Todo mundo estava assim, Paraná devia ter percebido quão monumentalmente errada a sua ajuda tinha saído e agora estava calado, fingindo que não tinha dito nada.

Essa situaçao extremamente desagradável pedia por outro improviso, mas Paulo precisava pensar, será que ainda dava para fazer sua proposta? Todo mundo na minha casa no dia vinte e quatro, eu em Brasília dia primeiro, não é uma troca injusta, é?

O Pernambuco não vai atirar em mim se eu falar isso, vai?

Ou me atacar com uma peixeira?

Ou pior?

Rio suspirou ruidosamente, endireitando-se:

-Caralho, Paulo, eu não tenho tempo para isso. Você vai ou não vai?

…e vinte e seis rostos esperando sua resposta, feriado nacional, só uma vez, não ia doer, ia?

-Também, não é como se fosse fácil para qualquer um de nós - disse Catarina, dando de ombros, Ô MANIA IRRITANTE MEU - Afinal de contas, você só vai estar saindo de São Paulo. E eu que vou ter que sair de Florianópolis?

-Ah, minha flor, mas aí é comigo também - Bahia concordou - Me dá um aperto no coraçao ter que sair de Salvador, ó, que eu nem te conto.

-Eu ainda sou muito mais Vitória. De longe!

-Vitória nem para catar bosta. O melhor natal é em Fortaleza.

-Nada. O melhor Natal é em NATAL! Rá, acabei com todo mundo!

-Besteira, tem coisa melhor que fazer a ceia na cidade onde Jesus nasceu?

-Pff, isso é porque vocês não se lembram de como é o Rio de Janeiro. O que me lembra que EU TENHO QUE IR PARA CASA. Fala, Paulo, o que é que-

-Tá, foda-se, eu não vou participar - ele improvisou, levantando-se de um salto, segurando o computador em uma mão e o cigarro estragado e o celular na outra. Claro que fora isso ele não tremía, também não estava nervoso ou com o rosto vermelho, seguro de si, como sempre, totalmente no controle - eu só ganho merda mesmo, eu tenho que trabalhar, fodam-se vocês e suas praias de merda. E você - ele se virou para Brasília, moleque irritante, que ergueu uma sobrancelha - Foda-se com o seu dia primeiro. Depois que a semana de festas virar feriado nacional, eu participo da sua cerimônia.

Ninguém fez silêncio, ninguém deu a mínima, Rio de Janeiro deu de ombros feito uma retardada e voltou para o TANQUE DE GUERRA que a tinha levado até ali, entrando sem se despedir. Ela tinha acabado de fechar a escotilha quando, como se lembrasse de uma coisa, levantou de novo, tirou metade do corpo para fora e gritou para dentro da casa:

-Ô Santinho!

Espírito Santo parou na hora (bosta de silêncio, aposto que essa galera ia ficar quieta mesmo que a Rio só soltasse um arroto) e olhou para ela, a mão instintivamente buscando a de Minas.

Rio estava apontando o dedo para ele:

-Tira o nome para mim e verifica se não é o meu. Depois a gente marca para você me entregar.

Santo assentiu, relaxando e soltando a mão de Minas como se ela fosse uma cobra e Rio voltou para dentro do tanque, fechando a escotilha e saindo de vez. Por um segundo, até Paulo esqueceu o que tinha planejado fazer até que, claro, sua saída triunfal.

Não dava para ser mais triunfal que um TANQUE DE GUERRA, então ele juntou toda a dignidade que lhe restava - muita, no caso - andou até a rua, constatou a total e absoluta ausência de táxis pela redondeza, praguejou baixinho por não ter combinado nenhum horário com o taxista, ligou para a empresa, ouviu a resposta de que seriam pelo menos vinte minutos até que alguém fosse buscá-lo, considerou a idéia de chorar baixinho de vergonha enquanto escutava os comentários às suas costas (“o que é que ele foi fazer agora?”,”sei lá, talvez respirar ar puro”,”verdade, coitado, é tanta poluição que só vendo”), respirou fundo e ligou para a companhia de táxi aéreo.

-Não importa o preço e não importa da onde - disse, entre dentes, de olhos fechados - mas vem me buscar agora. Em Minas Gerais, isso mesmo. Belo Horizonte. Não, não sei que bairro. Rastreia a minha ligação e vem para cá. Obrigado.

E não pensou no assunto pelo resto da semana, pegando metrôs lotados, tomando táxis feito um doido, decorando árvores que já estavam decoradas, trabalhando até tarde da noite, fumando como se fosse o último dia de sua vida, saindo para beber, saindo para dançar, pegando trânsito, vivendo, correndo, garoando.

Até o dia vinte e três.

TBC...

fanfic, estados

Previous post Next post
Up