Anoche he ido a ver uno de los tres maridos de Vai

Nov 09, 2010 18:26


 

Andava a ansiar o concerto de ontem dos BRMC desde início deste ano, aquando do planeamento falhado de uma viagem a Paris com a tia Vannia. É certo que não se tratava da mesma sede que tive por bandas como os Black Angels ou os Brian Jonestown Massacre, uma vez que já tinha visto estes três ao vivo (estes três como quem diz, que na altura ainda era o Nick que ocupava a bateria, e não a Leah mulher-de-armas); ainda assim, eram os BRMC, um amor top 5 de quase dez anos. E as recordações de Paredes de Coura eram alucinantemente boas. De modo que poder vê-los neste Portugalete por onde ninguém dos meus passa, é um motivo de exaltação, traduzido na compra de bilhete para as doutorais - que se lixe o meu desemprego, há prioridades!

Ainda para mais, na véspera, tenho a excelente notícia de que quem ia abrir o concerto eram os Murdering Tripping Blues: mais perfeito não podia ser (btw, só para corroborar o meu mundo de bom gosto, cof cof, quem vai fazer a primeira parte em Madrid são os nobres Lüger, tinha de fazer a publicidade!).

Posto isto, tentei vencer a preguiça, enfretei os chuviscos na calçada tuga escorregadia que tanto odeio, e meti-me atempadamente a caminho da Aula Magna (ya, quem foi o macaco que se lembrou de fazer este concerto naquele venue académico, marcado pelas cadeirinhas à rei de bom comportamento? Rock, alguém sabe o que é?? Ou como alguém que eu conheço diria: isto não é nenhum recital!). Felizmente chego a tempo de procurar um lugar desocupado melhor que o meu para poder assistir em condições à prestação dos (meus) Murdering Tripping Blues. As canções do segundo e último álbum Share the Fire são as que merecem o destaque inicial. Apesar de gostar bastante do primeiro álbum, e de muito ter rodado nos meus leitores de música em Madrid, posso agora admitir claramente que se os MTB quisessem fazer uma actuação baseada apenas no Share the Fire, sem recorrer aos "clássicos" do Knocking at the Backdoor Music, o poderiam fazer sem qualquer prejuízo. As músicas novas têm solidez e um desenvolvimento algo mais complexo que as do álbum anterior, e que por si só nos suscitam essa viagem rock que procuramos quando vamos a um concerto do género. Sem querer sobrevalorizar nem levantar desequilíbrios qualitativos entre os dois discos, a verdade é que enquanto no Knocking... temos boas canções, no Share the Fire (para grande parte das faixas, e especialmente quando tocadas ao vivo) o termo "canção" soa algo insuficiente para definir o entorpecimento dos sentidos que nos provoca o desenrolar das composições. Levando a coisa para o meu jargão dandy-warholiano, é como pegar na divertida Boys Better, por um lado, e na mind-blowing Fast Driving Rave-Up, por outro, vá.

No que toca a presença em palco, talvez a treta da Aula Magna (uma vez mais), talvez a responsabilidade de abrir para alguém como os BRMC, ou talvez ainda pelo facto de não se tratar de um concerto em nome próprio, tenha gerado uma certa distância para com o público e, por conseguinte (quer-me parecer), um certo "alheamento" dos membros da banda uns para com os outros. Gosto de os ver mais loose e divertidos, e num espaço mais pequeno. Contudo, não se enganem, não foi para nada uma actuação menor: a bateria continuou a soar como uma máquina bélica, a guitarra passeou por onde bem entendeu (ainda que num volume um pouco baixo - ou então é só a shoegazer em mim a vir à tona) e corroborou-se que o acompanhamento das teclas se torna num elemento com cada vez mais importância.

Ao chegar a casa, li o artigo no Cotonete, que terminava assim: «Nota de mérito: os nossos Murdering Tripping Blues, que fizeram a primeira parte, provaram ter andamento para pertencer à mesma noite dos BRMC.». Eu respondo, a prova não vem de ontem meus senhores, a prova já tinha vindo a ser dada há mais tempo. Bem me podem apelidar de imparcial por ser amiga del@s, mas o facto é que já antes dos MTB existirem com essa designação, eu acreditava no seu franco potencial. E nada me faz mais feliz que acompanhar este percurso de êxito. Ontem, quanto muito, foi tão-só mais uma confirmação da sua qualidade.

Após o rock introdutório dos MTB, lá tive de voltar à dança das cadeiras, na esperança que algum snob tivesse decidido ficar em casa, e eu lhe pudesse roubar o (bom) lugar. Mas não, tive azar de ter mesmo de ficar no meu assento, bastante lateral. Whatever, não ia deixar que isso me lixasse a noite. Aliás, tinha mesmo de a aproveitar bem, porque estava ali em missão de aproveitar por mim e pela Vannia. Trabalhar ao máximo nas minhas capacidades telepáticas e passar-lhe as sensações de quem assiste a um concerto dos BRMC. Não sei se consegui, mas espero que sim!

Entravam os senhores e a senhora em palco, e a War Machine abria as honras da casa. Ok, admito, por enquanto ainda dava para me manter sentada, mas não sabia por quanto mais tempo. Seguiu-se a Mama Taught Me Better e não houve dúvidas: tenho de saltar desta estúpida cadeira, ainda que seja para aí a única pessoa nas doutorais a fazer isso. Honestamente faz-me confusão como é que alguém consegue curtir plena e decentemente rock sentad@. O pouco espaço entre as cadeiras não ajudava, mas que se lixe. Um gajo nunca sabe quando é que é a última vez que vê a uma das suas bandas preferidas, por isso é sempre para aproveitar ao máximo! Daí para frente foi sempre a mexer, com algumas intercalações de momentos próximos de psych-shoegaze.

Um senão: as canções mais agitadas parecem-me ficar a perder com a Leah. Ela é demasiadamente robôtica, com um ritmo concatenado aos soluços, sempre com a mesma velocidade. Parece uma drum machine algo em slow motion. O som sai pouco orgânico. E se nos Raveonettes a coisa ainda podia passar porque em geral são musicalmente mais softcore (mais shoegaze que rock), nos BRMC cria um desequilíbrio e algumas canções tornam-se inclusivamente mais desinteressantes, infelizmente.

Contudo, o brilho rockeiro dos BRMC manteve-se, especialmente devido ao papel do Robert, sempre mais interventivo, quer na conversa (é um tipo muito doce, muito caloroso e expressivo nos agradecimentos, e que aproveitou para partilhar connosco a estória de amor lisboeta dos pais da Leah - algo como, a culpa é nossa porque temos uma cidade muito bonita que só faz o pessoal querer apaixonar-se... yeah right, acho que esse efeito só funciona nos estrangeiros - , que se encontravam na plateia), quer na presença em palco (pela forma desafiante como regularmente ostenta a sua guitarra, ou com uma saída para as doutorais, a esmagar as cadeiras vip, e finalmente a dar o mote para o pessoal todo se levantar e deixar-se de merdas, seguida de um pequeno canto a capella).

Após uma primeira curta pausa, deu-se início ao que eu designaria por segundo acto do concerto. Reentrava apenas o Robert, que se sentava ao piano e a solo nos cantava uma Dirty Old Town. O melhor, no entanto (e quem diria!), estava para vir. Sai Robert e entra Peter. Meus e minhas amig@s, eu tenho andado já há algum tempo nesta fase (que nem sei se é fase) irrequieta do rock. Porém, o(s) momento(s) alto(s) deste concerto registou-se precisamente quando o Peter decidiu cantar-nos a solo. O Peter é um gajo que viveu - aliás, não se poderia esperar outra coisa de quem integrou os Brian Jonestown Massacre). E mais: o Peter tem o dom de saber trespassar essa experiência e essas emoções através da conjugação da escrita e da música. Ouvir a Complicated Situation ou a Salvation provocou-me paragens cardíacas, para não falar da lagrimita (sim Raquel e Francisco, tinham razão na vossa suposição). Por mim os 33€ podiam até só ter pagado essas canções, eu prescindia na boa dos hits dos primeiros dois discos, aqueles que tipicamente nos levam à puta da loucura. A puta da loucura é excitantemente revitalizante, mas estes acústicos falam à alma, à consciência, ao coração e à memória de tod@s @s que já nos magoámos e nos continuamos inexoravelmente a magoar. Estas são as músicas que nos fazem trabalhar a nossa persona, não são mero entretenimento.

Depois de cerca de duas horas disto (!), estava saciada e ainda mais convencida do lugar dos BRMC no meu top 5. Lamentava apenas já não estar em Madrid, para poder ir a uma after party ou assistir a um dj set, como o que o Robert lá fez no Sábado passado. Pronto, saí de coração cheio e uma t-shirt do cenário (para substituir aquela que não gosto nada, como o logo deles). E ainda pude partilhar o êxtase brindando uma imperial com a desconhecida "colega de carteira" que ocupava o lugar do lado do meu.

Try to sit down is a therapy.
Estou a recomeçar, vou devagar.     

música

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