De puta maiden.
É que não há mais palavras ou expressões possíveis. O Ripley Johnson é um génio. Nunca ouvi nada dele, ou em que ele participasse, que fosse mau. Nunca ouvi porque, obviamente, não existe. O seu psicadelismo não necessita de drogas acopladas: a própria música é a droga que nos leva a viajar, pelo menos, metade de um concerto de olhos fechados.
Confesso publicamente a minha ignorância: nunca tinha ouvido falar deste grupo, até saber que iam tocar no Wurlitzer e (tal é a confiança que tenho na sua programação) dar-me ao trabalho de ir checkar do que se tratava. E boum!, dou de caras com a informação que era o projecto paralelo do Ripley dos Wooden Shjips. Veio-me então à memória a recordação de um triplo concerto em 2008, na Sala Caracol, em que os supostos cabeças de cartaz eram os Six Organs of Admittance, mas quem fechou a noite e com todo o mérito para tal (perdoa-me Chasny, até porque o teu último álbum é eteramente perfeito) foram esses tipos de San Francisco, com o nome meio estranho de Wooden Shjips, estruturados por um barbas espiritual, que me fez sair do concerto tonta e ir todo o caminho para casa a pairar pelo ar.
Ou seja, não perdia os Moon Duo nem por nada. Aliás, o entusiasmo foi tal que tive momentos em que ansiei mais por este concerto que pelo de Dandy Warhols (logo à noite já vos digo se tinha razão ou não). Portanto, lá me aventurei a ir sozinha, e, para mal dos meus pecados, a chegar hiper cedo a uma sala onde, além de mim e das camareras, só estavam mais 3 pessoas... Mas a vida tem situações algo peculiares, e não é que da meia dúzia de conhecidos que tenho em Madrid, metade deles estavam neste concerto? Pelo que converseta de circunstância aqui, converseta de circunstância acolá, a coisa passou-se bem.
Contudo, antes da trip dos céus, tivemos que levar com uma baja trip de uma primeira parte sem ponta por onde se pegasse (desde as diferentes influências de um pseudo-rock progressivo-psicadélico que não se encaixavam coerentemente, até à sua respectiva colagem ao estilo dos membros da banda, passando por um reportório metade em inglês, metade em castelhano - isto pelo que pude perceber, se é que me entendem...) levada a cabo por um grupo quase totalmente desconhecido (digo quase porque devia haver pelo menos uma pessoa na sala a conhecer os gajos, suponho). Para @s curios@s precavid@s que queiram evitar um choque casual com a música deles, chamam-se The Barbass.
Voltando a recalcar esse momento, escurece-se a sala, projectam-se uma imagens a branco e negro meio pixelizadas, meio psicadélicas, em tom de travelling, e entram dois deuses no Olimpo dos pedais. Perdão, no mini-palco do Wurlitzer onde já nem sei via o chão de tanto aparato de pedais e maquinaria afim. Uma mulher e um homem. De novo o homem de barbas grisalhas de há dois anos atrás, todo vestido de branco (man, como se isso não bastasse, o raio da t-shirt tinha um triângulo DIY, anda aí uma seita, ai anda anda) e com uns vans bicolores clássicos. De uma beleza prevalecente sobre qualquer prenoção mais massificada que se possa ter deste conceito. Mais que atractivo sexual, este Ripley é íman de beleza humana intemporal - como o Mark Arm é íman de beleza rock intemporal também. É que nem me casava com ele: colocava-o num altar e adorava-o. Não sei explicar, mas vai para além do meu entendimento.
Bom, isso, entra o Ripley e uma moça simples mas cheia de atitude, que em tudo e imediatamente me remete para a Alison Mosshart, mas de Vans no lugar de botas. Assim de melena larga, especialmente a franja a tapar totalmente o olhar. E sempre, sempre a rockar. Dir-se-ia que tanto ou mais que o público - excepção feita ao maluco do trance que estava ao meu lado e que, estranhamente, não parava de dar à moto-serra.
E a partir de aí, tal como disse no início, foi uma viagem non-stop. Tal como em 2008 (até porque a sonoridade dos Moon Duo, para mim é praticamente igual à dos Wooden Shjips, talez apenas um pouco mais baseada em artefactos electrónicos, mas de uma forma tão inteligentemente bem feita que essa diferença nem se torna um marco de referência ou de prejuízo; opinião contrária tem, no entanto, o Sergio, que dizia que Moon Duo é mais Suicide e Wooden Shjips mais The Doors), nem dei pelo tempo passar, ou quantas músicas foram tocadas, se foi curto ou se foi extenso. Aliás, este nem é o tipo de música que se meça por canções, não tem qualquer sentido - era como o Tavares quando dizia «as cantigas dos Metallica»; exacto, não tem sentido. Apenas viagens e suor a escorrer numa sala cheia, em pleno Verão tórrido em Madrid.
Ainda era suposto ter havido lugar para um encore, mas foi suprimido porque nem sequer os deixámos sair do palco. Quando iam a meter os tarecos de lado e a descer para o backstage, o eufórico gordito ao meu lado fez-lhes sinal com a mão para que voltassem para onde estavam - acompanhado de um sonoro «Ehhh!, tsh tsh tsh», que substitui o idioma que não se sabe falar - porque o concerto ainda não podia ter terminado. E muito simpaticamente, com sorrisos de agradecimento, lá voltaram eles a tocar mais um pouco para nosso gáudio.
Pitstop na banca para arranjar uma t-shirt dementemente (ou deverei dizer simiamente) bizarra - muito DIY style, a ilustração, que infelizmente não consigo encontrar online -, com direito a mais um elogio das minhas tatuagens (aquelas que me roubam a personalidade) sem que isso me valha qualquer desconto no preço da compra, e ala para casa sonhar com esta exploração audiovisual.
Pensando bem, vai na volta e no próximo fim-de-semana estou em Alicante a vê-los novamente. Com os The Fall....