Feb 15, 2024 03:33
quando o chão que não te deixa cair
é o tecto que não te deixa levantar
está na altura de percebermos, meu querido,
que o talento ficou-se pelo caminho
talvez não precise do alarme
nem do abraço, nem do riso contido;
talvez só precise do arame,
da falta de vontade e da curva do rio;
está na altura de perceberes, minha querida,
que o meu chão ficou-se pelo caminho
e que não me posso mais levantar
quando o tecto é o limite do meu talento
talvez não precise do arame,
nem do corte, nem do vidro partido,
talvez seja este o derradeiro alarme,
a volta do rio que me force a vontade
é difícil andar em linha recta
quando tudo é vendaval
é difícil andar em linha recta
quando o arame segue em curva
e continua tudo a ser vendaval
é difícil precisar do corte
quando o chão nos comprime a cabeça
é difícil, mas que te posso ensinar eu;
eu, do canto do quarto,
do fundo da cama, junto ao lençol amarrotado,
depois de mais uma noite mal dormida;
que te posso ensinar eu,
do fundo do chão, junto ao arame e ao vidro
a pensar desfazer as pazes comigo,
cheio dos meus vendavais
quando o tecto que não te deixa levantar
é o chão que não te deixa cair
está na altura de perceberes, meu amigo
que o sangue escoou pelo caminho
que o sangue escoou pelas curvas do rio