Jun 04, 2007 22:26
Então quis arrumar as malas. Pô-las à porta. Sentar-me ao lado delas. Quis fazer montes com a roupa, encavalitar os cadernos e os livros, deixar que o pó se abatesse definitivamente sobre o quarto. Então quis que dia quatorze fosse já amanhã e que recebesse o primeiro abraço familiar desde há uns meses.
De repente as memórias de casa são muito vivas, o cheiro da minha mãe muito forte. Sei de cor as dobras da minha casa, o calor que sobe nas paredes ao longo dos dias. Sei o sítio exacto em que o sol rompe a janela do meu quarto.
Quando cheguei a esta casa pus, apenas, o meu lixo próximo do dos outros. Abri a janela e deixei que o fio de dia entrasse no meu quarto. O fio foi-se atenuando e em momentos quebrar-se-á. Peguei no livro depois do banho, estendi-me na cama desfeita há meses. A música flutua no mar das coisas como um corpo cheio de ar.
Vou ficar aqui até à hora de pôr as malas à porta e me sentar ao lado delas. E depois, aí, com as pernas cruzadas, os braços sobre elas, alongados, esticados, as costas muito rectas e direitas, será a casa quem me virá buscar.